quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Elegia

Pai, perdoa as minhas mãos já tão cansadas
De abrir o véu do templo e procurar
Um vulto, qualquer traço de suas marcas
Mas não encontrar.

Perdoa o coração tão inconstante
E os olhos que não sabem procurar
Pra além dessas janelas embaçadas
Que se abrem ao meu próprio duvidar.

Eu sei que estás aqui e em qualquer canto.
No canto, no sussurro e no orar.
Perdoa o desespero amargo e inútil
De ver-te e não poder te enxergar.




Essa é uma canção que escrevo há mais de dois anos e que acredito que nunca vou chegar a finalizar. Os primeiros versos apareceram assim, sorrateiramente, como um desabafo. E de certa forma o é. Mas também é muito mais que isso. Na superfície, ela carrega essa tristeza de ter os olhos um tanto inúteis e um coração que precisa ser mimado com certezas e provas quase que diariamente. Mas ela revela também a beleza do meu relacionamento com Deus. Não uma beleza que eu mesmo tenha ajudado a criar - o mérito é dEle e apenas dEle. A simples e deslumbrante beleza de poder dizer abertamente que às vezes eu duvido.

6 comentários:

Miguel Del Castillo disse...

lembrei de duas coisas: do filme "Dúvida" e a confissão final da freira, e de João da Cruz, a noite escura. Que bonito, rapaz...

Dri D disse...

E esse Deus é estranhamente relacional apesar de nós. Disso eu não duvido.

Bruno Cunha disse...

Cara, eu te amo.

Renner disse...

Oooo Brunão.. assim eu fico até encabulado. Tô todo vermelho aqui, hehe, Saudade, bro.

Ruben Marcelino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ruben Marcelino disse...

Só discordei de uma coisa: que o mérito também não seja seu. Afinal, se relação é interação, essa mesma relação é uma criação daqueles que participam dela. Caso contrário, a criatividade divina teria parado antes de criar a criatividade humana. Nossa criatividade não é um mero pleonasmo perante a criatividade divina. As suas dúvidas, Renner, são uma prova disso.

Abração!!!