quinta-feira, 8 de abril de 2010

Identificação

Dia desses foi o aniversário do Wellerson, meu primo-irmão. O pai dele é irmão do meu pai e a mãe, irmã da minha mãe. É, interior tem dessas coisas meio puxadas pra famílias aristocráticas. Recebi um scrap dele no orkut agradecendo os parabéns e comentando que havia descoberto esse meu parlatório digital. Nas palavras dele:

"Cara, essa semana andei vendo seu blog "Palavras Olvidas" (Absurdo! Só agora o descobri), muito bom msm, confesso que tem hora dá até medo tamanha a minha identificação com aquilo q vc escreve rs"


Ler esse comentário acabou por desencadear uma avalanche de pensamentos despretensiosos sobre identificação e eu os transcrevo aqui como quem pensa alto.

Não preciso fazer esforço algum para rememorar muitos dos meus momentos de identificação. A maioria deles se deu em alguma página de livro - poesia, em boa parte disso. Mas não posso esquecer das conversas profundas ou mesmo superficiais. Identificação é um troço que me fascina. Cheguei a escrever algo sobre isso num post antigo sobre o orkut, mas o assunto nunca se esgota.

Identificação pra mim sempre começa na solidão. No ruminar solitário dos pensamentos, nos olhares vagos, nas digressões sobre o travesseiro. E normalmente isso nunca é um processo acelerado. É introspectivo por natureza, o que não quer dizer que se dê com gente introspectiva apenas. A identificação é um fenômeno comunicativo, não necessariamente verbal. A comparação seguinte vai ser bem forçada e por isso eu aviso de antemão. Identificação ter a ver, pra mim, com estar sentado sozinho na areia de uma praia deserta. A gente ficá lá, absorto olhando em direção ao horizonte até o dia em que alguém senta ao nosso lado. Não estamos sozinhos. Às vezes só nos esquecemos disso.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dos meus sonhos

Meu coração anda cauterizado. Isso não aconteceu da noite pro dia. Se fosse assim, eu teria percebido e feito algo num tempo mais oportuno. O que responder nessas horas quando alguém pergunta sobre o que ando sonhando? Ao chegar ao último encontro da liderança nacional do Alfa e Ômega eu não me sentia nada além do que uma folha em branco. Uma folha em branco precisando responder com o que tem sonhado. Se tivessem conversado comigo antes, não teriam feito uma pergunta tão cruel. Eu precisei fazer o que definitivamente não fazia há tempos: parar e escavar os monturos do meu coração em busca de uma resposta minimamente decente.

Se me perco a olhar o que me cerca, não há sonho que se configure tampouco esperança que me alimente. Fico abismado ao perceber que preciso de tão pouco pra me desesperar, mesmo que o desespero não seja algo que alguém possa identificar simplesmente me olhando. Mas sou assim: rude para as coisas espirituais. Um menino aprendendo a ser homem. Digressões à parte, o que me impulsiona a escrever essas linhas é de caráter onírico: meus sonhos; ou simplesmente o silêncio deles.

Às vezes me pego pensando na minha falta de esperança. Eu, que me considero tão esperançoso. Penso se toda minha esperança não seja, na verdade, um sintoma da minha dificuldade de lidar com as adversidades. Por não saber o que fazer, me projeto para o futuro na expectativa de que coisas melhores virão; mesmo sem ter nenhum indício concreto disso. Acabo criando com isso uma falsa idéia de que simplesmente descanso nos braços do Pai. Na maioria do tempo esse sou eu. Esse é o meu modus operandi. De uns tempos pra cá, contudo, eu venho desenvolvendo novos hábitos. Ao invés de ignorar os problemas, tenho me concentrado sobremaneira neles e por isso me vejo preso demasiadamente ao presente. Deveria estar um tanto satisfeito por conseguir o que raramente alcanço. Ledo engano. Nunca estou satisfeito. Nunca sinto que alcancei.

Como pincelei antes, minha incapacidade de sonhar está diretamente ligada aos meus olhos que não se cerram. Eles estão ávidos a contemplar minha sequidão, meu descompasso, minha inércia. Como sonhar quando não se adormece? Como sonhar quando não nos aquietamos nos braços dAquele que pode nos prover a tranquilidade dos pastos verdejantes e o refrigério das águas tranquilas? Eu não tenho sonhado simplesmente porque não tenho dormido.

Colocando as coisas dessa forma, sou tentado a pensar que a solução deva ser tão simples quanto a proposição do problema. E talvez realmente seja simples e eu não consiga me desvencilhar dessa eterna necessidade de querer complicar demais as coisas. Nessas horas eu me volto às palavras de Jesus: quem não se tornar como uma criança não poderá ver o reino dos céus. É dessa forma que preciso me aproximar de Deus. Eu o fitarei com os olhos vermelhos de quem insiste em permanecer acordado e Ele me dirá ao pé do ouvido: é hora de dormir, meu filho. Assim, ele me tomará nos braços a fim de que eu possa seguramente adormecer e sonhar os sonhos que ele colocará no meu coração.