segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Meu mais recente esforço de fé não é do tipo intelectual. Eu realmente não faço mais isso. Mais cedo ou mais tarde você simplesmente descobre que há alguns caras que não acreditam em Deus e podem provar que ele não existe e alguns outros caras que acreditam em Deus e podem provar que ele existe - e a esse ponto a discussão já deixou há muito de ser sobre Deus e passou a ser sobre quem é mais inteligente; honestamente, não estou interessado nisso" (Donald Miller)


Esse texto eu roubei emprestado do perfil orkuteano de uma amiga (beijo, Cássia. Cadê minha cuia de chimarrão?). Eu já o tinha visto várias vezes, lido algumas, mas só ontem eu lhe dei abrigo. Esse ontem é um espaço atemporal e só Deus sabe quanto tempo eu vou levar pra conseguir escrever esse post, que é de alguma forma uma extensão do "sobre a natureza do medo".

Como pode um texto com o qual você esbarra tantas vezes derrepente fazer tanto sentido e te atingir fulminante feito um infarto? A pergunta é um tanto retórica, eu sei, mas inevitável.

Ah! Sabe de uma coisa? Eu não deveria nem ter escrito nada logo que aquele parêntese se fechou. Tudo o que eu escrever aqui vai ser vazio demais diante do que estou sentindo. E a palavra está me deixando na mão. Mais uma vez.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Enxaqueca

A cegueira que agoniza
O coração a bater entre as orelhas.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sobre a natureza do medo

Esse texto deveria se chamar " Sobre a natureza do MEU medo", mas deixei assim mesmo, porque bem no fundo acredito que ele não seja apenas meu, por mais que pouca gente tenha coragem de manifestá-lo. Não espere um texto primoroso, nem desafiador, tampouco filosófico ou ainda teológico. É apenas um desabafo. Um daqueles pensamentos que se deixa escapar em momentos de extremo cansaço, ou um pensamento dito em voz alta, sem querer. Mas que, ao sair, apesar do embaraço, dá uma certa sensação de liberdade e alivia uma espécie de complexo de Atlas, por querer levar o mundo nas costas, ou melhor, um mundo; por menor que ele seja, e por mais pessoal que seja.

Quando nos debruçamos sobre o próprio medo tudo é turvo. Ficamos alí, meio que cegos tateando em desespero. Conhecemos nosso medo porque ele tem forma e por isso somos capazes de encontrá-lo no escuro. Sobretudo no escuro. O que normalmente encontro não é uma forma definida. É como tatear pedras e estar vendado. Algumas são absurdamente diferentes, mas outras são muito parecidas, e nesse ponto é que as coisas realmente nos escapam. Durante muito tempo eu segurei um medo em minhas mãos e acreditava piamente se tratar dO medo. Aquele medo primordial, que rouba o sono e seca a boca. E por mais que roubasse o sono e secasse a boca, não era ele.

Tenho um amigo que é míope, e outros míopes se confortam nisso. Não acredito que outros cegos se consolem na minha cegueira. Meus olhos estão repletos de escamas que não caem. Cada um precisa aprender a lidar com suas deficiências. E a minha me enganou por um tempo considerável. Um tempo que começou na adolescência, no exato momento que eu deixei de acreditar nas coisas simplesmente por osmose e passei a necessitar de um um pouco de esforço pra isso.

Sempre tive medo de acreditar que Deus não existisse. Por mais que eu tenha 99,9% de certeza, os 0,01 restante às vezes parecia ter mais corpo e numa relação inversamente proporcional, parecia maior. Terrivelmente maior. Se Deus me mandasse um bilhete apenas, uma mensagem no celular ou um scrap no orkut poria fim nisso, o que na verdade eu até duvido muito. Acho que precisaria mesmo do arcanjo Miguel com uma mensagem em papiro e com a firma reconhecida em cartório e tendo como testemunha os 12 apóstolos. Mas esse medo era uma mutação do medo original. Uma espécie de vírus que se transforma pra iludir o organismo. Para chamar toda a atenção dos leucócitos, enquanto o vírus real, o original, pôde ir se desenvolvendo sem muitas dificuldades. Mesmo que imperceptível. Não sei ao certo se a luz conseguiu penetrar num milissegundo capaz de me mostrar o erro, ou se foi outro cego com o tato mais sensível. A verdade pura e simples, por mais que pureza e simplicidade não sejam aplicáveis, é que meu medo não tem nada a ver com a existência ou não de Deus. Tem a ver com seu caráter.

Descobri que o medo que me compunge é descobrir que Deus não é bom, e que o sadismo irônico que, teima em querer mostrar a face no universo, realmente tenha uma face. Medo de que o sofrimento não tenha nenhuma função pedagógica e que C.S. Lewis tenha se equivocado quantao ao "megafone de Deus". Mas como eu posso querer ser aferidor da bondade de Deus baseado apenas no meu conceito de bondade? Se a minha justiça é como "trapo de imundície", minha bondade não está nada distante da mesma metáfora. E qualquer tipo de comparação me alçaria a um patamar acima de Deus(ou semelhante a Ele) e eu conheço uma história parecida que não terminou nada bem. Saber disso consola menos do que saber que a minha mente limitada não é capaz de processar Deus em sua plenitude. O que muda afinal de contas quando a resposta para a pergunta real lhe escapa tanto quanto para o sofisma?

Mas continuo eu aqui: em meio à dúvida e certeza, medo e fé. Mas percebo algo que muda completamente o meu estado. Apesar de continuar tateando medos e incertezas sem enxergar, faço-o não como quem está no escuro, mas como quem olha diretamente para o sol.

No fim das contas continuo cego, mas é por tanta luz me iluminar.