domingo, 4 de janeiro de 2009

E o mundo não acabou em 2000

Não sei se alguém se lembra, mas na minha época do primeiro grau, as meninas tinham um caderninho recheado das perguntas mais interessantes. Esse mesmo caderno passava de mão em mão, coletando informações aparentemente aleatórias, mas seu objetivo único era descobrir, ou pelo menos tentar, se o gatinho pelo qual a gatinha estava interessada também correspondia de alguma maneira. Em última instância, ajudava a conhecer melhor as rivais. Tenho pra mim, hoje, que elas me davam o bendito caderno pra preencher simplesmente pra disfarçar, pra mostrar que qualquer menino podia responder e assim mascarar a real intenção.

Auto-estima e ingenuidade à parte, eu me lembro muito bem das perguntas. Entre cores preferidas e outras peculiaridades, havia uma que encerrava toda minha expectativa de vida: "com quantos anos você quer se casar?". A resposta era a mesma em todos os cadernos: 18 anos. Não era um número escolhido ao acaso. Ele havia sido pacientemente estudado, baseado numa profecia apocalíptica.

Eu tinha entre 11 e 12 anos e não sei bem ao certo de onde alguém tirou que na Bíblia falava claramente que o mundo acabaria em 2000. Usavam ainda por cima uma frase com toda pinta de profecia: "A 2000 chegarás, mas de 2000 não passarás". Assim, desse jeito, em segunda pessoa e tudo, quem poderia duvidar da veracidade? Eu pelo menos não duvidava. Meu plano era de uma simplicidade brilhante. Eu me casaria aos 18, teria tempo pra aproveitar todo o sexo abençoado dentro do casamento que o bom Deus me permitiria. Sim, sexo. Nunca conheci alguém que quisesse ir pro céu virgem, mas deve existir; não era o meu caso. Enfim, eu teria 2 anos de diversão e ainda poderia até ter um filho. O bichinho, sendo inocente, iria pro céu na maior moleza. Se houvesse um prêmio nobel pra planejamento familiar, ele seria meu. Definitivamente.

Meus 18 anos chegaram sem casamento, sem sexo e, por dedução lógica, sem filho algum. Com meu plano dando todo errado, só restava orar e torcer pro ano 2000 passar batido. Na época, minha moral com Deus devia estar melhor do que agora, porque o mundo não acabou, como todo mundo sabe. Fico pensando em toda expectativa nutrida pelos meus 18 anos. Ele veio, passou e sumiu e mal deixou lembrança.

Me casei, virgem, aos 27 e agora, aos 28, fico planejando um filho lá pela altura dos 30. Escrevo esse post de Maceió, da casa dos meus sogros, uma cidade que conheci aos 22 e que nem sabia da existência aos 11. Ainda bem que o mundo não acabou em 2000. Eu estava no primeiro período da faculdade, dando graças a Deus por não estar casado e nem ter filhos. Quanto à virgindade...bem...valeu muito a pena esperar. Mas foi dureza. Literalmente.